De adolescente imigrante a pop star: confira o documentário da cantora M.I.A
Famoso no Festival
de Sundance o documentário Matangi/Maya/M.I.A, aguardado
filme feito a partir de mais de 20 anos de filmagem da própria M.I.A. com a
ajuda do amigo e diretor do doc, Stephen Loveridge. O projeto foi anunciado em
2013, mas a produção parou por conta de uma diferença entre ele e selo musical
Interscope Records.
O
filme segue Maya, 44, provocando a indústria da música e a mídia mainstream enquanto
tenta manter sua integridade artística, mostrando a trajetória de uma
adolescente imigrante em Londres à popstar internacional M.I.A. Um trailer de
quase cinco minutos divulgado ainda em 2013 mostra bem o conteúdo denso e
relevante do qual é feito o documentário. Tem participações do ativista Julian
Assange, Kanye West e Diplo, um dos produtores mais quentes do mercado há anos
e ex-namorado da cantora.
Maya
canta e briga pelos oprimidos e pelos refugiados. Seu lado ativista fala mais
alto que seu lado pop star e já rendeu críticas e problemas à cantora. Nos
últimos anos, ela se envolveu em inúmeras provocações e confusões. Criticou
Beyoncé por apoiar o movimento Black Lives Matter, e foi
processada pelo NFL em US$ 16.6 milhões por mostrar o dedo do meio durante o
show no Superbowl que
participou à convite de Madonna. Somente sse fato isolado mostra que está
dentro dela – verdadeiramente – a necessidade de ir contra o sistema. Que outra
cantora pensaria em fazer qualquer gesto “negativo” para as câmeras ao vivo de
um dos eventos mais assistidos do mundo?
Para
entender seu posicionamento, vamos voltar um pouco no tempo. Maya nasceu em
Londres, mas cresceu no Sri Lanka e na India, onde seu pai integrava um grupo
separatista chamado Tamil Tigers, que lutava pela separação do Estado de Tamil,
minoria à qual pertence a família de M.I.A. Os Tamils estão entre as mais
antigas civilizações do mundo e, originalmente, governavam Tamilakam e partes
do Sri Lanka. Porém, na era colonial passaram a ser governados pela Índia
Britânica, o que erradicou seu poder transformando-os em minoria. O tratamento
dos Tamils pelo governo de Sri Lanka é uma preocupação constante que aparece
nas letras de Maya.
No
Sri Lanka, ela viu cenas como a polícia bater em sua mãe grávida. “Meu pai e
minha família começaram uma guerra que durou 35 anos. Eu fazia parte da família
mais caçada da região e isso é uma coisa que nos lembram no minuto em que
nascemos: ‘alguém vai te matar’”. Maya teve raras chances de desfrutar da companhia
de seu pai, devido ao seu envolvimento com a organização Tamil Tigers. Os
Estados Unidos vêem os Tigers como grupo terrorista e negou diversas vezes o
visto de entrada para M.I.A. no país.
Quando
mudou para Londres aos 10 anos, sofreu preconceito por causa de sua cor. Ela
chegou a tomar cuspe na rua ou ainda se sentir totalmente invisível. “Não é nem
racismo, é muito além. É como se você simplesmente não estivesse lá”, diz ao The
Independent.
Foi
essa rebeldia, raiva e senso de justiça que construíram a sonoridade única da
cantora, que apareceu no início dos anos 2000 com o álbum Arular e seu som
global que conectava os jovens dos subúrbios de Londres com pessoas oprimidas
em países sub desenvolvidos. Muito ativismo e feminismo apareceu em seguida,
desde o surgimento de cantoras como Grimes e Santigold, dadas como descendentes
diretas de M.I.A, a Nicki Minaj e Beyoncé, com sua Formation Tour. “Eu não sou a
pessoa que faz bilhões de dólares falando de opressão. Eu sou a quebradora do
gelo, daí vem alguém atrás de mim e monetiza em cima”.
Maya já foi
nomeada a um Oscar, fez turnê com Bjork, compôs para Christina Aguilera, cantou
com Kanye West e Jay-Z no Grammy 2009 (grávida de nove meses)… Para sua
gravadora, ela poderia ser o ícone do milênio. Seus agentes falavam: “Você
poderia ser a Rihanna se simplesmente calasse a boca”. Isso veio como
consequência do hit Paper Planes. A música
estourou, mas também virou um hino dos refugiados. Às críticas que recebeu na
época, ela responde:
“Bom,
eu tenho que ser honesta comigo mesma. Se você é um imigrante, significa que
deixou algo em algum lugar e, a maior parte do tempo passou fugindo de uma
guerra. Os sons das armas são uma parte da nossa cultura como uma coisa
cotidiana. Se eu fui exposta a armas de fogo, violência, bombas e guerra, então
eu posso usar esses sons apoiando meus pensamentos em uma música. Olha, eu
estou bastante à vontade com sons de bala. Se você tiver um problema com isso,
vá e fale com as pessoas que estavam atirando em mim.”
Em seu útltimo album AIM, lançado em
2016, ela resurge mais positiva e tranquila. “Estou exausta, quero apenas me
aposentar e cuidar do meu filho”, disse à Rolling Stones, indicando que este
seria seu último disco de estúdio. “É o trabalho mais positivo que já fiz, sem
nenhum desses tópicos como racismo, gênero ou política. Tem sido uma jornada
interessante pra mim, essa coisa de espalhar o amor”. E logo emenda: “Estou me
esforçando para não soar como Madonna”. Essa é M.I.A.: você pode sair da
revolução, mas a revolução não sai de você.
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